Tacioli – Você vê a música como um produto cultural?
Melodia – Vejo, claro.
Tacioli – Mas na hora da composição, você a encara assim? Muitos antigos sambistas de morro compunham para contar uma história para seus pares. Como isso nasce em você, Luiz?
Melodia – Rapaz, eu me vejo tão sincero quando componho. Eu me lembro de muitas composições que fiz, embora inspiradas nisso ou naquilo, mas me sentia sincero no que eu estava fazendo. Um sambista, um cara de raiz, como os compositores do Zeca Pagodinho são interessantes – não estou nem falando do Zeca Pagodinho, embora seja o cara mais interessante do samba, que está mantendo aquele samba de raiz, aquele pagode. Você pode observar as canções, as composições deles são interessantes. Rufino, da Bahia, puta de um compositor. Luiz Carlos da Vila. São caras que você pode ouvir. É diferente desses pagodinhos de beira-de-ralo, né, velho? Não dá!
Max Eluard – Li uma entrevista sua em que falava de uma música desse disco que você fez e que havia mandado para Sandy & Junior. Dizia, também, que você pensou em não incluí-la no CD, porque a achava muito comercial. Você vê algum problema nisso? Quando li, pensei, “Pô, o Melodia não deveria nem pensar em mandar para Sandy & Junior. Quando viu que a música era comercial, era de fácil aceitação, ele mesmo deveria ter gravado”. Isso é legítimo e não diminui o trabalho artístico. Pelo contrário, é muito difícil você encontrar uma fórmula que faça você atingir todo mundo, de A a Z.
Melodia – Mas nesse disco eu me questionei em relação a isso. O disco estava vindo romântico pra caramba. Aí eu perguntava para a Jane, “Será que é isso aí, mesmo?” E ela falava, “Mas qual o problema?” [risos] Mas era uma coisa muito particular, até!
Almeida – Era como estava saindo.
Melodia – Era como estava acontecendo. E tinha essa música que compus com o Perinho Santana aqui em São Paulo. O Perinho ligou para mim, “Luiz, estou com uma melodia interessante. Venha cá! Sobe aqui!” Aí, subi e começamos a compor. Logo depois que terminamos, falei “Seria lindo se Sandy & Junior cantassem!” Achei naquele momento! E qual o problema? [ri] Depois disso, escrevi a letra, e aí começou o grilo. [ri] Começou aquela maluquice comigo mesmo. Aí eu perguntava a Jane inúmeras vezes, e ela “Porra, manda logo para os caras!” “Não sei se vou mandar. Acho que não vou gravar essa música. Acho muito comercial.” Aliás, eu estava achando muitas coisas comerciais nesse disco. Mas, engraçado, que eram coisas que eu queria gravar.
Max Eluard – E por que desse policiamento?
Melodia – Percebi que era loucura. Depois fui me policiando também…
Max Eluard – O contra-policiamento.
Melodia – É que eu estava preso. “Rapaz, você está em cana!” [risos]
Tacioli – Mas que elementos davam essa conotação comercial?
Melodia – A letra.
Tacioli – Não era a melodia?
Melodia – A melodia também tinha um… principalmente essa que eu pensei em mandar para Sandy & Junior. Mas também tinha uma ternura nessa melodia e letra que fez com que eu achasse que eles poderiam gravar. Olha só como coincidiu. Vim fazer uma gravação aqui, um clipe, não foi um clipe [perguntando-se]… Jane, foi um comercial que eu vim fazer aqui na época? [pergunta para a mulher que está em outra mesa conversando com a Denise]
Jane – Da C&A?
Melodia – Pois é, eu queria lembrar quando eu encontrei com o músico da …
Jane – Ah, não! Foi um comercial da Natura.
Melodia – Isso. Aí, o menino que estava no violão tinha um companheiro que trabalhava com Sandy & Junior. E batendo papo, “Pô, rapaz, é o seguinte…” [risos]
Sampaio – “Eu tenho uma música!” [risos]
Melodia – “Eu tenho uma música! Olha que loucura!” Ele falou “Maravilha, vou estar com eles agora. Vamos ensaiar semana que vem. Manda, Luiz!” “Vou mandar para você. Ficarei muito feliz de ver eles cantarem!” Não acreditava muito que eles fossem… não acreditava mesmo! Ainda mais Melodia. Jamais! Mas mandei o CD. Nunca mais, nunca mais. Não sei nem se eles receberam.
Tacioli – Você acha que eles conhecem o Melodia?
Melodia – Com certeza. Conhecer, eles conhecem.
Tacioli – Mas a obra do Melodia?
Melodia – Nada, nisso não acredito.
Tacioli – Nessa entrevista, você disse que “eles nem chegaram a ouvir”, mas fiquei com a impressão que a música estava meio no fim da fila, e se eles conhecessem a obra do Melodia…
Melodia – Não, não, acho que a política é diferente. Pô, totalmente diferente se Djavan mandasse. É uma outra onda. Com certeza.
Tacioli – Você não teve resposta. Que sentimento passou por você?
Melodia – Eu tinha a maior vontade de vê-los cantando essa música, com certeza. Mas posso me decepcionar, porque, de repente, os caras têm um CD lá e estão guardando a música. De repente eles gravam! [risos] Já imaginou minha cara desse tamanho, cara de nordestino do caralho que vou ficar, né, compadre! Mas não faço fé, não! Talvez fosse Veloso… Coisa de mídia, velho. Melodia não está nesse patamar a ponto de… Acredite se quiser!
Melodia – Vejo, claro.
Tacioli – Mas na hora da composição, você a encara assim? Muitos antigos sambistas de morro compunham para contar uma história para seus pares. Como isso nasce em você, Luiz?
Melodia – Rapaz, eu me vejo tão sincero quando componho. Eu me lembro de muitas composições que fiz, embora inspiradas nisso ou naquilo, mas me sentia sincero no que eu estava fazendo. Um sambista, um cara de raiz, como os compositores do Zeca Pagodinho são interessantes – não estou nem falando do Zeca Pagodinho, embora seja o cara mais interessante do samba, que está mantendo aquele samba de raiz, aquele pagode. Você pode observar as canções, as composições deles são interessantes. Rufino, da Bahia, puta de um compositor. Luiz Carlos da Vila. São caras que você pode ouvir. É diferente desses pagodinhos de beira-de-ralo, né, velho? Não dá!
Max Eluard – Li uma entrevista sua em que falava de uma música desse disco que você fez e que havia mandado para Sandy & Junior. Dizia, também, que você pensou em não incluí-la no CD, porque a achava muito comercial. Você vê algum problema nisso? Quando li, pensei, “Pô, o Melodia não deveria nem pensar em mandar para Sandy & Junior. Quando viu que a música era comercial, era de fácil aceitação, ele mesmo deveria ter gravado”. Isso é legítimo e não diminui o trabalho artístico. Pelo contrário, é muito difícil você encontrar uma fórmula que faça você atingir todo mundo, de A a Z.
Melodia – Mas nesse disco eu me questionei em relação a isso. O disco estava vindo romântico pra caramba. Aí eu perguntava para a Jane, “Será que é isso aí, mesmo?” E ela falava, “Mas qual o problema?” [risos] Mas era uma coisa muito particular, até!
Almeida – Era como estava saindo.
Melodia – Era como estava acontecendo. E tinha essa música que compus com o Perinho Santana aqui em São Paulo. O Perinho ligou para mim, “Luiz, estou com uma melodia interessante. Venha cá! Sobe aqui!” Aí, subi e começamos a compor. Logo depois que terminamos, falei “Seria lindo se Sandy & Junior cantassem!” Achei naquele momento! E qual o problema? [ri] Depois disso, escrevi a letra, e aí começou o grilo. [ri] Começou aquela maluquice comigo mesmo. Aí eu perguntava a Jane inúmeras vezes, e ela “Porra, manda logo para os caras!” “Não sei se vou mandar. Acho que não vou gravar essa música. Acho muito comercial.” Aliás, eu estava achando muitas coisas comerciais nesse disco. Mas, engraçado, que eram coisas que eu queria gravar.
Max Eluard – E por que desse policiamento?
Melodia – Percebi que era loucura. Depois fui me policiando também…
Max Eluard – O contra-policiamento.
Melodia – É que eu estava preso. “Rapaz, você está em cana!” [risos]
Tacioli – Mas que elementos davam essa conotação comercial?
Melodia – A letra.
Tacioli – Não era a melodia?
Melodia – A melodia também tinha um… principalmente essa que eu pensei em mandar para Sandy & Junior. Mas também tinha uma ternura nessa melodia e letra que fez com que eu achasse que eles poderiam gravar. Olha só como coincidiu. Vim fazer uma gravação aqui, um clipe, não foi um clipe [perguntando-se]… Jane, foi um comercial que eu vim fazer aqui na época? [pergunta para a mulher que está em outra mesa conversando com a Denise]
Jane – Da C&A?
Melodia – Pois é, eu queria lembrar quando eu encontrei com o músico da …
Jane – Ah, não! Foi um comercial da Natura.
Melodia – Isso. Aí, o menino que estava no violão tinha um companheiro que trabalhava com Sandy & Junior. E batendo papo, “Pô, rapaz, é o seguinte…” [risos]
Sampaio – “Eu tenho uma música!” [risos]
Melodia – “Eu tenho uma música! Olha que loucura!” Ele falou “Maravilha, vou estar com eles agora. Vamos ensaiar semana que vem. Manda, Luiz!” “Vou mandar para você. Ficarei muito feliz de ver eles cantarem!” Não acreditava muito que eles fossem… não acreditava mesmo! Ainda mais Melodia. Jamais! Mas mandei o CD. Nunca mais, nunca mais. Não sei nem se eles receberam.
Tacioli – Você acha que eles conhecem o Melodia?
Melodia – Com certeza. Conhecer, eles conhecem.
Tacioli – Mas a obra do Melodia?
Melodia – Nada, nisso não acredito.
Tacioli – Nessa entrevista, você disse que “eles nem chegaram a ouvir”, mas fiquei com a impressão que a música estava meio no fim da fila, e se eles conhecessem a obra do Melodia…
Melodia – Não, não, acho que a política é diferente. Pô, totalmente diferente se Djavan mandasse. É uma outra onda. Com certeza.
Tacioli – Você não teve resposta. Que sentimento passou por você?
Melodia – Eu tinha a maior vontade de vê-los cantando essa música, com certeza. Mas posso me decepcionar, porque, de repente, os caras têm um CD lá e estão guardando a música. De repente eles gravam! [risos] Já imaginou minha cara desse tamanho, cara de nordestino do caralho que vou ficar, né, compadre! Mas não faço fé, não! Talvez fosse Veloso… Coisa de mídia, velho. Melodia não está nesse patamar a ponto de… Acredite se quiser!
Fonte: Gafieiras.com.br
Que música era essa?
ResponderExcluirNão temos ideia de qual música. :/
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